segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vergonha

Dia normal, rotina normal: café-da-manhã bom, sem atrasos no trânsito, sem incômodos antes da escola. Porém, ao chegar, não sabia que teria um tão grande. Um incômodo que me atormetaria tanto ao ponto de me deixar triste agora, antes e depois.

Coloquei a mochila em uma cadeira qualquer e esperava que o tempo passasse, mas não passou. Súbito, alguém chamou meu nome. Não reconheci a voz porque estava ocupado em pensar bobagens, mas fiquei surpreso ao não ter ficado nervoso quando escutei. Quem chamou foi justamente ela. Não era comum ela me chamar, muito menos tão cedo de manhã, mas fiz o possível.

-Daniel!
-Oi...? - sem graça, não pensei em nada para falar. A dúvida foi logo cortada.
-Quero falar com você.

Um amigo, que olhava próximo, virou-se e fingiu não ter escutado. Sabia ele o que seria o assunto? Pouco provável, apesar de ser amigo de nós dois. Seria pouco provável porque ninguém sabia desse assunto, e na verdade, ela não tinha nada a me falar. Apenas estendeu o braço e abriu a mão.

Devolveu.

-É... - tentei, mas em vão. O que eu poderia falar? - Por quê? - perguntei decepcionado, sem palavras. Apenas queria entender, fazer uma pergunta sem resposta.
-Não. - quebrou o perfil e os costumes dela, não era costume falar nesse tom - Só pegue.

Pensei. Pensei por horas, dias, meses, vivi uma solidão e um sofrimento, até perceber que ainda estava parado e ainda tentava conversar com ela naquela estranha manhã. Ainda não entendia: sem mais nem menos, sem motivo algum, ela me devolve um presente que a dei a mais de um ano atrás. Era um símbolo, algo com valor indefinido, mas acima de tudo, um presente, por tanto, não deveria ser devoldido, por mais banal que fosse. Quem sabe eu tenha me aproveitado disso durante todo esse tempo, apenas para me enganar agora.

O que isso tudo significaria? Ou melhor, o que isso significou para ela? Nada, talvez? Sei que desde então não conversamos mais como antes, mas não tínhamos deixado de sermos amigos, a amizade ainda durava. No entanto, de hoje em diante, algo vai mudar. Não sei o quê, mas nunca vou descobrir, até saber o porquê de tê-la presenteado.

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